terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Campos submersa

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Há 10 mil anos, tudo era água entre o litoral atual e a Serra do Imbé

Se fosse possível entrar em uma espécie de “tunel do tempo” e regredir até 10 mil anos atrás, grande parte dos campistas precisaria de um barco para se locomover. E os sanjoanenses, coitados, assim como os quissamãenses, jamais encontrariam vestígios de suas cidades. Pode parecer estranho, mas — acredite — houve um tempo em que a água do mar encobria praticamente tudo que existe hoje entre a Serra do Imbé e o litoral da região.

Para entender essa história é preciso regredir ainda mais no tempo. Tudo começou há cerca de 200 milhões de anos, quando a separação dos continentes sul-americano e africano — que até então formavam o super-continente denominado “Pangea” — deu origem ao oceano Atlântico. Com a separação, as rochas da região se soergueram, formando as cadeias de montanhas que hoje existem paralelas ao litoral brasileiro.

“Nessa época, o mar chegava até as montanhas. Mas, aos poucos, as chuvas foram originando um sistema de drenagem. Os rios transportavam os materiais erodidos das serras e dos tabuleiros da região e os depositavam nas partes baixas do novo relevo. E assim foi sendo crianda a Bacia Sedimentar de Campos, que na parte marinha deu origem ao petróleo e, na parte continental, originou os depósitos de argila”, explica a geóloga Maria da Glória Alves, pesquisadora do Laboratório de Engenharia Civil (LECIV) da UENF.

Primeiro, formou-se uma estreita faixa de terra — denominada “Formação Barreiras” — proveniente dos sedimentos trazidos das partes altas do continente pelos rios e canais. Um destes rios era o Paraíba, cuja formação data de 1,8 milhões de anos atrás. Naquela época, a planície ainda não estava formada, e o Paraíba desaguava no mar muito antes do local onde viria a existir a cidade de Campos.

O processo de evolução do Rio Paraíba divide as opiniões dos cientistas. Para o geólogo campista Alberto Ribeiro Lamego, os sedimentos trazidos pelo Paraíba foram formando uma faixa de terra perpendicular ao continente, criando dois golfos — o Golfo de Campos e o Golfo da Lagoa Feia. Segundo ele, há cerca de 10 mil anos, o Paraíba invadiu a baixada, indo desembocar na “laguna” de São Thomé. Geólogos modernos, no entanto, se contrapõem a esta teoria, por acreditarem que o rio não teria força suficiente para chegar tão longe, tendo que “brigar” com o mar. Para eles, foi preciso que o mar descesse para que o Paraíba pudesse, enfim, traçar sua trajetória.

Segundo Surguiu, por volta de 5.100 anos atrás, teria ocorrido o evento denominado “última transgressão marinha”. Até então, o mar ora subia, ora descia, mas depois deste evento, o mar nunca mais subiu. Com a descida do mar, formaram-se barras arenosas, criando no meio uma região protegida, de águas calmas, na qual o Paraíba ía depositando seus sedimentos. Sem o mar para brigar com ele, finalmente o Paraíba pôde seguir seu caminho. Movimentos tectônicos, ocorridos posteriormente, produziram um desvio de quase 90 graus em seu percurso, fazendo com que o rio passasse a desembocar em Atafona.

“Nos últimos 5 a 6 mil anos, formou-se a planície de inundação do Paraíba e, consequentemente, os depósitos de argila da região. A Lagoa Feia foi o que sobrou dessa história: ela é o resto do que não foi preenchido por sedimentos. Mas, no início, ela era cerca de 5 a 6 vezes maior do que é hoje. Tudo era água chegando até Campos”, diz Maria da Glória.

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