sexta-feira, 10 de abril de 2009

Credibilidade e Democracia

 

 

 

“A vaidade é meu pecado predileto!”

(Lúcifer em “Advogado do Diabo”[1]).

 

Amigo Jefferson,

Já pensou no que significa a expressão vender a alma? Já ouviu falar da figura literária de Mefistófeles ou simplesmente Mefisto? Já pensou em fazer tudo possível para alcançar algum objetivo ardentemente desejado?

Isso tudo parece tenebroso e longe da nossa vida de homens de bem. Cristãos que somos, que vamos às nossas igrejas, que rezamos antes de dormir, que lemos a Bíblia, que falamos sempre “se Deus quiser”, que mandamos os amigos irem sempre com Deus.

Estas metáforas estão longe do nosso cotidiano repleto de boas ações e de pecados brandos, quase imperceptíveis. Vender a alma significa para nós uma proximidade que tangencia cenas dignas da Divina Comédia. Entretanto, quando Goethe, por exemplo, escreveu a desdita de Fausto falava a nós, homens de bem. A sutileza desta literatura não se presta a facínoras embrutecidos habitantes dos guetos infernais.

Nós é que temos percepção para entender a mensagem das agruras vividas por Fausto e discernimento para escolhermos o caminho da humildade, da riqueza de espírito e da paciência franciscana (mais uma vez com sua licença, pois, apesar de não ser católico, sou devoto de São Francisco de Assis).

Portanto, o que tenho a lhe dizer em resposta a sua carta aberta é para nós. Serve pra você nesse momento de perturbação e serve para mim quando eu estiver longe dos princípios da ética coletiva pautada na opção pelos menos favorecidos.

Recorro à surrada imagem de Fausto por que não consigo pensar em outra metáfora conhecida que se encaixe nesse seu momento de miopia da alma. Se pudesse faria apenas uma pequena correção, pois me parece que o seu caso se adapta mais à figura do aluguel e não da venda. Penso que você se coloca na situação do personagem que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comparava a Paulo Maluf. Afinal, falando em vaidade e política não podemos esquecer de FHC. Ele dizia que Maluf, enquanto candidato a presidente da república que foi, era como um Napoleão de hospício. Um sujeito que coloca na cabeça que é uma coisa e tenta provar a todos o absurdo da farsa que assumiu.

Veja se não podemos enquadrar o seu caso neste paralelo? Você, insidiosamente, começa a alimentar uma candidatura dentro de um grupo político que sempre admirou. Grupo com quem compartilhou ideais, trabalho e resultados no campo das políticas públicas. Embora admirasse seus pares não conversava abertamente com eles sobre as suas pretensões. Quando procurado por eles, que intuíam as suas intenções, você sonegou informações, abriu mão da sinceridade e negociou de forma dissimulada. O que fazia você? Procurava amealhar um patrimônio eleitoral buscando nos impressionar com uma avalanche de votos? Quanta ingenuidade! Uma legião de pessoas que te prometeu apoio hoje te renega pelos corredores depois da sua malfadada carta aberta. Eu te disse isso: apoios vêm e vão ao sabor dos acontecimentos. Não se impressione com os sorrisos e tapinhas nas costas, pois “O beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja” (de Versos Íntimos – Augusto dos Anjos).

Desesperado por não conseguir apoio entre os seus, você recorre ao plano “B”. Coloca o portfólio eleitoral debaixo do braço – embora ele esteja furado e vazando – e sai como um mascate que, de porta em porta, vende um produto cuja qualidade não pode garantir.

Amigo, você hoje é um candidato de aluguel! Embora seja um sujeito decente – e jamais o compararia a Maluf – você está se transformando no Napoleão de hospício. Ou seja, botou na cabeça que é candidato e ninguém o convence do contrário. Na medida em que percorre corredores, vendendo seus produtos, não percebe que às suas costas seus clientes maldizem a quinquilharia inútil que você forneceu.

Sua candidatura não tem legitimidade porque não é conformada na negociação coletiva. É resultado da sua obstinação quase patológica e de um pequeno grupo de pessoas que não reconhece a grandeza, pelo menos no momento, dos objetivos precípuos desta instituição. Embora tenha uma leitura ácida da sua prática atual eu não o condeno na essência. Acredito que em um momento, espero que em breve, você reconhecerá o erro da candidatura solitária e irá buscar o coletivo. Falo, porém, dos setores que construíram a boa luta e não de aventureiros e conservadores que destilam ideias mofadas pelos nossos pátios. Por isso me preocupa essa sua afirmação de que mudou de trincheira. As outras trincheiras que vejo daqui me assustam.

 

Feito esse prólogo, que resgata uma parte do cenário que você anda ignorando, eu gostaria de entrar na sua carta aberta que considero uma peça proveniente de um dos momentos mais infelizes que já presenciei nos meus 26 anos de ETFC, Cefet e IFF.

Muitos te pediram pra você pra não tomar atitudes em momento de emoção forte. O ódio é um péssimo conselheiro, amigo! A sua carta é uma profusão de falas, aparentemente coerentes, porém dignas de um Jefferson que eu não reconheço. Está ali uma faceta sua que nunca havia percebido desde os seus 16 anos, quando foi meu aluno.

Emerge do seu texto um homem amargurado, egocêntrico, egoísta e ressentido que só vê as próprias virtudes. Não importa quão belas sejam as palavras, mas a intenção de quem as profere. Senão vejamos as várias personalidades que detectei na sua pena:

 

A carta canta as suas vitórias no Cefet de uma forma tão retumbante e ufanista que nem percebe algumas distorções e incoerências pueris. Quando fala do mestrado, por exemplo, diz como se fosse uma vitória pessoal sua e de servidores sérios e comprometidos. Esquece que dentre esses servidores está uma série de pessoas que hoje você renega por meio da sua pena raivosa. Esse amigo que vos fala, inclusive, que coordenou a implantação do curso lato sensu que você diz ter dado origem ao Mestrado em Engenharia Ambiental. Segundo a carta, porém, eu sou um dos que “não consegue conviver com os avanços” do segundo mandato de Luiz Augusto. Diz que os projetos eram apenas para os “amigos”. Isso é de uma infelicidade crassa, pois ignora e achincalha os programas de capacitação universais implantados desde o início da direção do professor Roberto Moraes onde você pôde fazer sua especialização e o seu mestrado. Os programas eram tão universais, meu caro, que até os inimigos do diretor, que viviam escarnecendo e injuriando ele no corredor foram beneficiados. Só como exemplo: lembra da primeira turma de economia empresarial na Ucam? Quantos amigos de Roberto e Luiz Augusto havia ali? Defendo também Luiz, pois a carta só resgata o segundo mandato dele, já que insinua que tudo se transformou quando você entrou na equipe. Ou seja, metade do que Luiz Augusto fez é jogado na vala comum do desmazelo e da falta de critério. Sua carta leva a crer que só se fez luz na terra com a sua presença demiúrgica aqui. Sobre a revista Vértices você diz que era uma experiência exitosa. Afinal o que você chama de “outras direções” tem algum valor? Ora, antes de você não imperava o caos?

 

A sua carta, amigo, está revestida de uma série de calúnias em tom de denúncia, que empanam quaisquer sentimentos nobres que possam estar motivando as suas atitudes e palavras neste momento. Ora, atirar a esmo no corredor parece coisa de adolescente sociopata de colégio de primeiro mundo.

Digo isso porque denúncia vem impregnada de uma atitude corajosa que diz os fatos e as pessoas que os produziram, mesmo que não se possa provar. Ao contrário você faz acusações genéricas no conteúdo e no que diz respeito aos responsáveis. Coloca em polvorosa uma instituição que diz respeitar. O que te move neste momento? O respeito à democracia e o amor ao IFF ou a decepção da sua candidatura, momentaneamente frustrada, e o interesse em desestabilizar a gestão dos seus mais novos desafetos? Acredito até que você guarde os primeiros valores, mas seu ego acabou produzindo os resultados da minha segunda pergunta.

Jefferson, eu sou um membro bastante conhecido de outra gestão. Reconheço e louvo os avanços das gestões de Luiz Augusto, ao contrário de você que só reconhece o segundo mandato. Tanto isso é verdade que fui coordenador da campanha de Luiz Augusto na sua reeleição e coordenei a implantação do curso de Especialização em Educação Ambiental que, segundo você, deu origem ao Mestrado em Engenharia Ambiental. Coordenei esse curso por três anos sem ter gratificação. Citei apenas dois exemplos entre outras coisas.

Você é testemunha do quanto eu apoiei os mandatos de Luiz Augusto, como fui leal a ele colocando as minhas críticas diretamente a vocês e nunca de forma sorrateira nos corredores ou em carta aberta espalhada pela Internet de uma forma que fere a ética da boa prática num ramo que você conhece bem.

Estou fazendo a minha defesa, pois não tenho procuração de ninguém para estender o meu protesto a outras pessoas, contudo você sabe que ao se referir a “pessoas de gestões passadas” você atinge a muita gente que não merece o seu ódio conjuntural. Embora, no fundo, ninguém mereça ódio, nem mesmo quem o destila.

 

A calúnia sempre traz de carona a covardia, pois quem calunia não tem coragem de denunciar, não tem consistência suficiente para plantar certezas então prefere semear dúvidas. Quando não temos provas e não temos coragem de enfrentar as consequências de uma denúncia devemos ter o mínimo de dignidade para calar. É quase tão corajoso quanto denunciar. Porém, espalhar acusações inespecíficas ao vento é uma atitude mesquinha e imatura e não faz parte do caráter do Jefferson que eu conhecia até o dia 31 de março de 2009.

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