segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sua competência só lhe rende mais trabalho? Saiba como dar um salto na carreira

Heloísa Noronha

Trabalhar até altas horas lhe dá fama de pessoa trabalhadora, mas não necessariamente competente

Trabalhar até altas horas lhe dá fama de pessoa trabalhadora, mas não necessariamente competente.

Você rala, se esforça, produz, dá o seu melhor e acaba sendo recompensado com um belo aumento de... trabalho! Acredite, o excesso de competência pode, em muitos casos, ser uma “pedra no meio do caminho” e resultar no efeito inverso do desejado: em vez de te deixar mais perto de uma promoção ou aumento, só os afastam.

A culpa dessa situação nem sempre é do tal chefe que faz vista grossa ou da suposta empresa que suga seus colaboradores sem recompensá-los. Por melhores que sejam suas habilidades, é preciso encarar que a responsabilidade pela estagnação pode ser sua.

Quem é mais veloz atrai a confiança do gestor e costuma ser o nome mais lembrado a cada novo projeto. “Os colaboradores mais eficazes tendem a receber uma carga maior de trabalho, porque são vistos como solucionadores e isso interessa a todo gestor, em qualquer empresa”, afirma Janaína Ferreira Alves, especialista em gestão de pessoas e coordenadora do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). A sobrecarga, para a especialista, não é uma característica só do mercado brasileiro, e sim algo que ocorre naturalmente em qualquer ambiente de trabalho no qual existam pressões para resultados e clima de que "não há tempo a perder". “O aumento de trabalho ocorre por uma pressão do mercado, portanto não há como combatê-lo ou controlá-lo precisamente. Mas há como gerenciá-lo”, destaca Janaína. Assim, é possível ter mais segurança e menos ansiedade.

Uma pessoa bastante produtiva deve tomar cuidado ao assumir tarefas demais, que excedem sua capacidade de realização. Há o risco de comprometer a qualidade e provocar atrasos, gerando resultados negativos a sua imagem profissional. “Há profissionais que são mais centralizadores e acabam acumulando atividades e trabalhando mais do que os demais justamente pela dificuldade de delegar ou trabalhar em equipe”, avisa Daniella Correa, consultora de Recursos Humanos da Catho Online. Se esse é seu caso, aprenda já a pedir ajuda. Esta atitude é tida como sinônimo de inteligência, e não de fracasso.

O funcionário dedicado que tem o hábito de ficar na empresa após o expediente corre o risco de transmitir uma imagem negativa, mesmo sendo competente. “O ideal é que as atividades sejam organizadas para serem executadas dentro do horário. Existem exceções, claro, mas o ideal é ser pontual”, afirma Daniella. Isso ajuda o profissional a saber priorizar, organizar e delegar suas atividades. Além disso, possibilita horas de descanso e lazer, auxiliando ainda mais em sua motivação e produtividade. “Lembre-se: quem fica depois do horário é mais comumente reconhecido como uma pessoa trabalhadora e não necessariamente competente”, diz Alvaro Gazda, "head hunter" da empresa de recrutamento Michael Page.

Quando temos receio de receber críticas, deixamos de dar ideias e de ser proativos. “Por medo de errar, muitas vezes deixamos de fazer”, afirma Branca Barão, especialista em comportamento humano e programação neurolinguística, de São Paulo. Muita gente vive sobrecarregada com o mesmo tipo de trabalho simplesmente porque se recusa a se mostrar disponível para outras tarefas mais importantes. “Um bom equilíbrio está entre as habilidades que a pessoa tem e o desafio que aquele trabalho significa pra ela. É preciso encarar desafios compatíveis com suas capacidades. E é bom aumentá-los sempre que houver oportunidade, o que representa crescimento para o profissional e para os resultados da empresa”, destaca Branca.

“Fazer mais com menos é um aspecto do mundo globalizado”, afirma a escritora e palestrante Renata Di Nizo, fundadora da Casa da Comunicação, em São Paulo. Aceitar esta afirmação é importante, especialmente se você gosta do seu trabalho. Mas isto não quer dizer que é preciso "se matar" para realizar mais tarefas. “Há uma diferença entre ser flexível e adaptável. O primeiro encontra novos caminhos e soluções, enquanto o segundo consegue resultados neles. O brasileiro leva vantagens sobre outros povos, porque faz o trabalho do outro, bem feito, com resultados positivos”, explica a psicóloga e consultora organizacional Izabel Failde. Para Daniela do Lago, especialista em treinamento, comportamento e coaching executivo, a forma de combater a sobrecarga é ter suas metas bem claras e mensuráveis e saber o que a empresa espera de você. “Além disso, é fundamental ter uma descrição de suas responsabilidades. Assim, poderá identificar as tarefas a mais que vem desempenhando”, sugere ela.

Algumas características comportamentais podem ofuscar sua competência. A introversão é o principal exemplo. Quem não se comunica na hora certa e do jeito adequado pode estar sabotando sua carreira – ou seja, está “puxando o próprio tapete”. De que adianta ter boas ideias se não as divide com ninguém? Como solução, os especialistas sugerem a matrícula em cursos de oratória, marketing pessoal e comunicabilidade. “Também acredito que a baixa autoestima e a falta de confiança em si mesmo são fatores que ofuscam o desempenho, pois a pessoa não consegue ter a vitalidade necessária para superar os desafios inevitáveis”, destaca Renata.

Ter uma comunicação assertiva é fundamental. Você diz “sim” com vontade de dizer “não”? Em uma reunião, se posiciona do jeito como gostaria? Diz a alguém que se constrangeu com um comentário invasivo? Comunicar-se de forma clara, objetiva, segura e gentil vai impactar direta e positivamente nos relacionamentos, o que potencializa resultados. Neste contexto, é importante ter posicionamento e expor seus valores para construir uma imagem positiva e obter respeito no ambiente de trabalho.

Organize um cronograma transparente, com horário para almoço e sem horas extras, e discuta o assunto com o chefe. Esta atitude funciona muito bem para negociar prazos e ajudar o próprio gestor a distribuir melhor as atribuições. Se surge uma tarefa urgente, ela precisa entrar em um cronograma já existente, e isso irá “empurrar” para frente os prazos das outras tarefas que já estavam previstas. “Gerenciar as demandas é agir profissionalmente. Não significa dizer ‘não posso fazer’, mas ‘posso fazer, só vamos negociar o prazo da entrega’, o que é bem diferente”, explica Janaína, do Ibmec.

Muitas pessoas ainda acreditam que não devem pedir por um salário maior e acabam ressentidas por ter de esperar o reconhecimento. É claro que a iniciativa deveria partir do próprio gestor, mas nem sempre é isto o que ocorre. Em geral, as pessoas competentes não recebem aumento porque simplesmente não o pedem. E há os empregadores que acham cômodo deixar os subordinados na mesma posição. Com exceção de empresas com uma gestão mais moderna, é habitual e cultural não oferecer aumento. “Até em alguns setores da economia mais aquecidos, como o de petróleo e tecnologia, que têm oferecido e efetivado aumentos de até 80% para profissionais-chave, o aumento ocorre apenas depois dos funcionários sinalizarem que vão sair da empresa”, comenta Janaína. “Vá lá e peça, mas antes faça um levantamento de todos os bons resultados que conseguiu para a empresa nos últimos meses”, aconselha Daniela do Lago.

Nenhuma competência se sustenta sem motivação, comprometimento, interesse e paixão. Há também outros quesitos, como o status ou o retorno financeiro, mas um profissional que leva em conta apenas estes últimos dificilmente desenvolve de forma satisfatória os atributos anteriores. Salário não sustenta motivação; é só uma questão de tempo para o profissional se sentir desmotivado novamente. “Quando o profissional faz o que gosta e gosta do que faz, naturalmente desenvolve a tal paixão pelo trabalho, que gera comprometimento e motivação”, diz Izabel Failde. Um gestor atento consegue captar isso nos subordinados.

De nada vale um MBA estrelado no exterior se a competência não vier acompanhada de determinados atributos, especialmente os comportamentais. “Você pode ser um excelente técnico, um profundo conhecedor do assunto ou negócio, mas isso não garante seu lugar ao sol. Você precisa de qualidade em tudo que fizer e de uma atitude ‘dialogadora’. E nada disto importa se você não levar em conta os outros”, afirma Renata di Nizo. Todo profissional deve dedicar tempo à construção de relacionamento, à gestão de pessoas e à gestão dos valores (seus alinhados com os da empresa). Além disso, é imprescindível ter visão de futuro e desenvolver a aptidão criativa para inovar. Os atributos valorizados atualmente pelo mercado são as capacidades de negociação, relacionamento, tomar decisões, gerenciar conflitos, administrar o tempo, trabalhar em equipe e motivar.

Para a competência funcionar (e ser reconhecida), é necessário assumir a responsabilidade por uma tarefa, executá-la com excelência e entregá-la para a pessoa certa no momento certo. “Esta capacidade pode ser descrita como uma boa habilidade política, ou seja, de livre trânsito em diferentes níveis hierárquicos. Isto é imprescindível para manter um bom ambiente entre seus colegas e ao mesmo tempo conseguir alguns pontos preciosos com seus superiores”, avisa o "head hunter" Alvaro Gazda. Ele ressalta ainda que um trabalho só pode ser considerado bem feito se for reconhecido pelos outros como tal. Se não, o resultado cai totalmente no anonimato, por melhor que seja.

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