domingo, 30 de janeiro de 2011

Astronauta vira autor de autoajuda

 

Cinco anos após ir ao espaço, o brasileiro Marcos Pontes também dá palestras motivacionais, por R$ 15 mil.

Ele se tornou também garoto-propaganda de travesseiro "Nasa", de "Nobre e autêntico suporte anatômico".

Cris Komesu/Folhapress

Giuliana Miranda

Prestes a completar cinco anos da viagem ao espaço, o primeiro (e até agora único) astronauta brasileiro, Marcos Pontes, especializou-se em outros voos: técnicas de motivação e autoajuda. Com temas como "sua empresa é sua espaçonave" e "sou membro da tripulação, a importância do trabalho em equipe", ele cobra, a Folha apurou, cerca de R$ 15 mil por participação. "Não dá para dizer ao certo quantas [palestras] são. Tem meses que são várias. Em outros, desaparecem", diz Pontes.

Ele diz que a ideia partiu do público, que o procurava em busca de conselhos profissionais e pessoais. "Eu me especializei. Fui estudar e fiz cursos de coaching [treinamento] e gestão de pessoas", conta. Tanto esforço parece estar dando certo. No mês passado, Pontes lançou o livro de autoajuda "É possível! Como transformar seus sonhos em realidade" (Ed. McHilliard), que mistura suas experiências no espaço a dicas de como ser bem-sucedido.

Nesse cinco anos, Pontes também se tornou garoto-propaganda de uma marca de travesseiros com tecnologia da Nasa. Nada a ver com a a agência espacial americana, porém: "Nasa", no caso, é sigla para "Nobre e Autêntico Suporte Anatômico".

O logotipo da empresa de travesseiros divide espaço no seu macacão de astronauta (uma espécie de réplica do que foi usado no espaço, com o qual ele se apresenta em terra) com a bandeira nacional e o símbolo da Agência Espacial Brasileira. Segundo alguns críticos, Pontes teria ido para a reserva da Aeronáutica, logo após voltar da estação espacial, para ganhar dinheiro com palestras e produtos associados a seu nome.

Ele nega e afirma que, após anos fora da ativa e sem fazer os cursos obrigatórios, esse seria o caminho natural. Seguido, inclusive, por astronautas de outros países.

Em um texto em seu site (www.marcospontes.net), ele classifica essas críticas como "imbecilidade".

Visivelmente com alguns quilos a mais, o astronauta atribui as mudanças na balança a alterações hormonais, que seriam um dos efeitos colaterais dos dez dias que passou no espaço.

Pontes também diz ter desenvolvido várias alergias, além de hemorragias nos dois ouvidos. Esses inconvenientes, diz, não o fizeram se arrepender da missão.

Na última quinta-feira, Pontes deu uma palestra sobre robótica na Campus Party -maior evento de tecnologia do Brasil. A simpatia do palco se manteve mesmo quando, ao terminar, foi cercado por gente querendo uma foto. "Com esse macacão de astronauta, ele não consegue ir muito longe sem pedirem foto", diz sua assessora.

Pontes continua vivendo em Houston (EUA), onde, em 1998, começou seus treinamentos de astronauta. Embora permaneça à disposição do Brasil para um segundo voo, ele afirma que é difícil que isso aconteça. "Hoje eu diria que as chances são baixas", diz ele, citando cortes de verbas no programa espacial americano, entre outros fatores.

Ele continua trabalhando no Centro Espacial Lyndon Johnson, da Nasa, mas faz questão de frisar que não é contratado pela agência. "Sou funcionário AEB (Agência Espacial Brasileira)", diz.

Ele afirma, porém, que suas atividades em Houston já não são mais tão intensas. Os trabalhos andam "meio parados", diz.

 

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