domingo, 28 de novembro de 2010

Moisés Duarte Filho - Presidente da  ISA Seção Estudantil Campos dos Goytacazes

 

Por Bruno Galo

No final de década de 90, no período conhecido como o boom de internet, as companhias pontocom surgiam como se fosse por geração espontânea. Irrigadas com capital farto, tinham planos de negócios ousados e o sonho de abrir o capital na Nasdaq, a bolsa eletrônica dos EUA. 
 
A explosão desta bolha trouxe a maioria dessas empresas à dura realidade. Agora, uma nova geração de companhias de internet está surgindo. E o cenário no Brasil nunca esteve tão propício. 
 
Hoje, existem cerca de 40 fundos de investimentos de capital de risco no País, com cerca de US$ 2,5 bilhões em ativos sob gestão, de acordo com levantamento do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV-EAESP. 
 
“O Brasil tradicionalmente sempre foi um exportador de commodities, mas uma nova leva de empresas pode mudar isso”, diz Robert Binder, coordenador da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital. 
 
Nos últimos meses, representantes de alguns dos maiores fundos do mundo visitaram o País. Um deles, o Atomico Ventures, do criador do Skype, Niklas Zennström, já abriu um escritório em São Paulo e planeja tornar-se sócio das chamadas startups brasileiras. 
 
Outros fundos devem seguir o mesmo caminho. “O Brasil entrou definitivamente na rota dos maiores fundos de capital de risco do mundo”, afirma Binder. Conheça cinco empresas brasileiras que estão transformando as áreas em que atuam, dão resultado e despertam a atenção de investidores.
 
 
Detetive virtual 
 
Ser convidado a mostrar seu trabalho em um encontro de desenvolvedores do Google é um dos sonhos de uma empresa de tecnologia. Em maio, a Predicta, especializada no comportamento do consumidor na web, foi a única companhia brasileira a participar de uma conferência global do gigante das buscas em São Francisco, nos Estados Unidos. 
 
Ela foi apresentar o BTBuckets, uma ferramenta que é uma espécie de detetive virtual e captura todos os passos de um usuário quando ele navega na internet. Com isso, o dono do site pode entender o comportamento do internauta, para oferecer publicidade ou até mesmo conteúdos mais adequados. Mais de três mil empresas, entre elas gigantes como Unilever, Pfizer, Motorola e Santander, espalhadas por 100 países, usam a ferramenta da Predicta. 
 
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Walter Silva, da Predicta: ferramenta de audiência é usada por grandes empresas em mais de 100 países
 
“Ela é a estrela do nosso portfólio”, afirma Walter Silva, sócio-fundador e diretor financeiro da empresa. Com dez anos de estrada, a Predicta entrou no radar dos fundos de capital de risco. Chama a atenção dos investidores o seu crescimento de 40% ao ano desde 2005. 
 
A receita prevista para este ano é de R$ 22 milhões. Atualmente, a empresa está em negociações avançadas com o fundo FIR Capital para um aporte de US$ 20 milhões, que avaliaria a Predicta em cerca de US$ 55 milhões. 
 
Nada mal para uma companhia que nasceu para vender ingressos pela internet, migrou para a venda de publicidade até finalmente encontrar o seu filão no desenvolvimento de software e serviços de análise do comportamento online dos internautas.
 
 
Buscas corporativas
 
O Google é a referência da área de buscas. Mas a upLexis, uma pequena empresa brasileira, está crescendo em um segmento que o gigante americano ainda não domina: as buscas corporativas. 
 
Ela desenvolveu uma tecnologia capaz de interpretar uma grande massa de dados disponíveis na web e retornar resultados tão rápidos quanto a caixa de buscas do Google. O robô de busca varre desde documentos públicos, como processos judiciais, até todo o Diário Oficial. 
 
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João Marcelo, da upLexis: empresa descobriu um filão que o Google pouco explora e com seu sistema de busca corporativa conquistou dois mil clientes
 
“Proporcionamos inteligência para negócios”, diz o fundador e responsável por tecnologia da empresa, João Marcelo Alcoverde. Atualmente, a empresa tem mais de dois mil clientes, a maior parte bancos e seguradoras, como o Bradesco, que usam a ferramenta para fazer pesquisas sobre créditos, disputas na Justiça e lavagem de dinheiro em bases de dados públicas, mas difíceis de serem acessadas ou entendidas. 
 
A Nestlé e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também usam a solução da empresa. A companhia, que prevê um crescimento de 50% em 2010, recebeu recentemente aporte da Allegro Participações, holding brasileira que tem mais de 12 negócios no País e atua em diversos setores da economia. 
 
 
Vídeo na web
 
Foi um inesperado temporal que mudou os rumos da mineira Samba Tech. Fundada em 2005, a empresa atuava como intermediária entre desenvolvedoras internacionais de jogos para celular e as operadoras de telefonia móvel no Brasil. “Sentíamos que precisávamos sair desse negócio de revendedor”, lembra Gustavo Caetano, sócio-fundador e CEO da empresa. 
 
A solução desse impasse veio em 2007, em um encontro inesperado com um indiano, diretor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, um dos principais polos mundiais de pesquisa em novas tecnologias. Ele sugeriu que a empresa participasse de um programa do instituto. 
 
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Gustavo Caetano, da Samba Tech: com aporte de R$ 5 milhões, ele mira o mercado internacional
 
Com a consultoria gratuita, a empresa entrou na área de vídeos online. Seu diferencial: não é preciso instalar nada. Tudo ficava armazenado em computadores da empresa espalhados pelo mundo no modelo de tecnologia conhecido como computação em nuvem. 
 
Em 2009, a Samba Tech conquistou aporte de R$ 5 milhões do fundo brasileiro FIR Capital. O faturamento deve chegar aos R$ 10 milhões em 2010. Dos dez maiores grupos de mídia nacionais, oito usam a tecnologia da empresa. Ela também tem clientes na área de comércio eletrônico e ensino a distância. “Nosso objetivo agora é internacionalizar”, diz Caetano.
 
 
Seu dinheiro de volta 
 
“Se fosse bom, alguém já tinha feito.” Era exatamente com essa frase que André Monteiro e Bruno Medeiros, ambos paranaenses, eram recebidos pelos investidores brasileiros ainda em 2008. Provar que um modelo de negócios pioneiro, como o Compra3, poderia dar certo foi o grande desafio desses empreendedores. 
 
A ideia da dupla: criar um sistema em que os usuários recebem de volta até 25% do dinheiro na compra de um produto. Quanto mais pessoas comprarem aquele item no mesmo mês, maior o valor do reembolso aos clientes. Hoje, o portal brasileiro reúne mais de um milhão de produtos oferecidos por varejistas como Americanas, Fnac, Walmart, Ponto Frio e Sacks. 
 
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André Monteiro, da Compra3: ele teve que provar que seu modelo inovador e pioneiro podia dar certo
 
A ideia só foi para a frente quando eles conheceram Michael Nicklas, um economista norte-americano com passagem pela IBM e Disney, que escolheu o Brasil para investir. Com Nicklas e seu fundo Socialsmart Venture a bordo, eles levantaram R$ 2 milhões e puderam dar início ao site. 
 
No ar desde meados de 2009, o site espera fechar o ano com um milhão de usuários cadastrados, contra 100 mil do início do ano. “Estamos otimistas quanto às chances de expandir nosso modelo para outros países”, diz Medeiros.
 
 
Adeus às locadoras
 
A grande estrela de 2010 da bolsa eletrônica Nasdaq, que reúne empresas de tecnologia e internet nos EUA, é a locadora online Netflix. Desde o começo do ano, o valor de mercado da companhia triplicou e superou os US$ 8 bilhões. 
 
No Brasil, quem tem um modelo semelhante é a NetMovies, que prevê crescimento de sua receita em 350% em 2010. O faturamento deve romper os R$ 50 milhões neste ano. Fundada em 2004, ela nasceu da frustração de seu fundador e CEO, Daniel Topel, hoje com 35 anos. 
 
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Daniel Topel, da Netmovies: locadora online usa frota de motoboys para levar DVDs e Blu-rays diretamente à casa dos seus clientes 
 
Ele queria assistir a filmes com mais conforto e menos trabalho. Bolou um intrincado modelo de logística cuja ponta é representada por motoboys que entregam os envelopes com os DVDs na casa dos clientes. “Nosso sistema permite um nível de eficiência e rentabilidade maior que o da concorrência”, afirma Topel. 
 
Desde 2006, a NetMovies tem entre seus sócios a holding Ideiasnet, que reúne empresas de tecnologia. O dono da EBX, Eike Batista, tem participação nela. Forte aposta do grupo, a locadora online recebeu aporte de R$ 4,5 milhões no início deste ano. O próximo passo da empresa é a ampliação do acervo de filmes para serem assistidos online.

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