segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Software de R$ 1.870 evita grampo em celular

 

DIÓGENES MUNIZ
editor de Informática da Folha Online

Um software comercial seria o bastante para impedir a interceptação da conversa via celular entre o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, e seus interlocutores, contanto que eles também estivessem protegidos. É o que afirma Edison dos Santos, diretor da companhia CryptoCell, especializada em sistemas antiescuta.

O chamado "celular antigrampo", que costuma ser vendido em pares, com ou sem aparelho físico, pode ser encontrado em lojas de contra-espionagem de São Paulo e comprado pela internet.

O programa criptografa as ligações em até 2048 bits --ou seja, ele transforma o som em inúmeras combinações que, embaralhadas, não podem ser traduzidas. Se os usuários que estão dos dois lados da linha empregarem o serviço, nem mesmo a operadora consegue identificar o teor da conversa, segundo Santos. Em um eventual grampo, ouve-se apenas ruídos, explica.

Marja Airio/Reuters
"Celular antigrampo" pode ser encontrado em lojas de contra-espionagem de São Paulo e comprado em sites especializados
"Celular antigrampo" pode ser encontrado em lojas de contra-espionagem de São Paulo e comprado em sites especializados

"Essa maleta [citada como suposto aparelho responsável pelo grampo ao presidente do STF] emula uma central telefônica. Ele pega o sinal, mas não consegue entender nada. No caso de 2048 bits, é uma criptografia monstruosa. O grampo só vai captar chiados", diz Santos.

"Esse material [maleta] não existe no Brasil. Só poderia ser adquirido nos EUA ou em Israel", afirma Marlom Peresa, dono da loja de inteligência e contra-espionagem Missão Impossível, localizada no centro de São Paulo.

O ministro Nelson Jobim (Defesa) revelou a compra por parte da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de maletas que podem fazer grampos em celulares sem depender de operadoras, segundo adiantou a Folha. Com preço estimado em US$ 500 mil, o equipamento consiste em um laptop e uma antena acondicionada em uma pasta tipo 007.

As maletas são capazes de varrer as comunicações mantidas por meio de uma determinada ERB (Estação Rádio Base) --antena instalada pelas operadoras em postes e em cima de edifícios-- e interceptar um sinal telefônico específico no ar. Por lei, a Abin é proibida de fazer escutas.

Oficialmente, a Abin diz ter adquirido apenas aparelhos de "contramedida", com objetivo de identificar grampos. No entanto, o diretor-adjunto afastado da agência, José Milton Campana, confirmou na quarta-feira que as maletas compradas pela agência podem realizar escutas até 100 metros de distância, em "terrenos limpos".

Diógenes Muniz/Folha Online
Entrada da Missão Impossível, no centro de São Paulo, tem boneco fantasiado de espião
Entrada da Missão Impossível, no centro de São Paulo, tem boneco fantasiado de espião

Efeito Daniel Dantas

A companhia CryptoCell (cryptocell.com.br), que oferece o serviço a R$ 1.870 para celulares Nokia, diz que alavancou suas vendas em 60% nos últimos 12 meses --mas não divulga números.

De acordo com Santos, as últimas operações da Polícia Federal, sobretudo a Satiagraha, ajudaram na divulgação do sistema junto a corporações. "O público fica atento a essas tecnologias, principalmente quando se começa falar de espionagem, Daniel Dantas...", comenta. A empresa diz que o governo lidera a procura pelo seu produto, empatado com prestadores de serviço (17% das compras cada). A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Presidência da República, que preferiu não comentar o dado.

"O mercado brasileiro deverá absorver 15 mil novas licenças de software criptográfico parar celular neste ano", aposta o executivo.

De acordo com Peresa, da loja Missão Impossível, a criptografia de celular é à prova de grampo. Sua loja vende o par de celulares "protegidos" já com o software por R$ 4.500. "Não falar é a melhor defesa [contra grampos], é a defesa natural. Mas, quando o sujeito precisa falar, a melhor defesa são esses aparelhos", diz.

Com informações da Folha de S.Paulo

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